3 de nov. de 2012

ISAAC BASHEVIS SINGER


Isaac Bashevis Singer (1904-1991), judeu e Prêmio Nobel de Literatura, foi um escritor que abordou brilhantemente a temática vegetariana, em várias de suas obras.
A tese de Bashevis Singer é clara: todos nós, seres humanos, por conta de nossos hábitos de consumo e de nossa cultura antropocêntrica, somos responsáveis por um crime monstruoso, um verdadeiro holocausto animal.
O vegetarianismo de Bashveis Singer é bastante antológico, sendo citado, por exemplo, pelo escritor Moacyr Scliar no seu prefácio à coletânea “47 Contos de Isaac Bashevis Singer”, publicada pela Companhia das Letras em 2004. A menção de Scliar ao vegetarianismo de Singer, porém, não é lá muito abonadora, expressando bem o senso comum acerca dos vegetarianos, a imagem distorcida que as pessoas em geral têm daqueles que decidem não compactuar com a violência contra os animais e, por isso, optam por uma alimentação sem carne: “Não era fácil conviver com Singer, um homem que tinha suas idiossincrasias; era inclusive vegetariano.”


Singer, nascido na Polônia, filho e neto de rabinos hassídicos, emigrante para Nova York em 1935, construiu um universo ficcional que remete continuamente à infância e à adolescência vividas na Europa e à atmosfera de intensa religiosidade em que foi educado, de onde vêm os elementos predominantes de seu estilo e o estímulo da intenção de rever um “mundo morto”, o das pequenas comunidades judias nas aldeias polonesas (chamavam-se shtetl as povoações ou bairros de cidades com uma população predominantemente judaica). Seus contos, escritos de maneira simples, sem grandes sofisticações – revelando, no entanto, grande capacidade criativa e penetração crítica –, são comparáveis somente aos contos dos grandes nomes da literatura universal, como Guy de Maupassant, Edgar Allan Poe, Hoffman e Machado de Assis. Toda essa criatividade e essa crítica foram, frequentemente, usadas a favor da causa vegetariana.


Um exemplo que fala por si é o seguinte trecho da novela “O Penitente”, em que o narrador, um judeu relapso que decide se voltar à espiritualidade e abandonar as coisas mundanas, tornado-se justo e virtuoso, se questiona sobre a exploração dos animais:

Há muito eu chegara à conclusão que o tratamento do homem para as criaturas de Deus torna ridículos todos os seus ideais e todo o pretenso humanismo. Para que este estufado indivíduo degustasse seu presunto, uma criatura viva teve de ser criada, arrastada para sua morte, esfaqueada, torturada e escaldada em água quente. O homem não dava um segundo de pensamento ao fato de que o porco era feito do mesmo material e que este tinha de pagar com sofrimento e morte para que ele pudesse saborear sua carne. Pensei mais de uma vez que, quando se trata de animais, todo homem é um nazista.


Entre os contos de Bashevis Singer, que se tornou vegetariano na metade da década de 1960, destaca-se a pequena obra-prima “O Abatedor”, que conta a história de um homem, Yoineh Meir, um homem que, pela sucessão natural, seria o próximo rabino de sua aldeia, Kolomir, mas que, por causa de picuinhas dentro da comunidade judaica, acaba sendo preterido por outro.
Para que não ficasse sem fonte de renda, porém, “caridosamente” o nomeiam o novo abatedor ritual da cidade.
E é aí que começa o pesadelo do pobre homem, sujeito de alma sensível e que não suporta a visão de sangue. Frente à sua relutância em assumir a nova ocupação, o próprio rabino lhe diz que o homem não pode ser mais compassivo que o Todo-Poderoso, fonte de toda compaixão (não é mera coincidência qualquer semelhança com o clássico e tolo comentário “mas Deus fez os bichinhos para serem Comidos” que vegetarianos ao redor do mundo, há séculos, são obrigados a escutar todos os dias).
Quando Singer desembarcou em Estocolmo, no dia 6 de dezembro de 1978 para receber o Prêmio Nobel, foi cercado por dezenas de jornalistas que o bombardearam com dezenas de perguntas: “Por que o senhor escreve em iídiche?”; “Quais os escritores que mais o influenciaram?”; “O senhor está feliz pelo fato de o novo Papa ser polonês?”; “O senhor é vegetariano por motivo de religião ou por motivo de saúde?”.
Singer só respondeu a esta última pergunta, legando-nos o que talvez seja a mais perfeita síntese da sua veg-visão de mundo: “Eu estou mais preocupado com a saúde dos animais do que com a minha própria.”



Algumas citações de Singer :

“Não haverá justiça enquanto o homem empunhar uma faca ou uma arma e destruir aqueles que são mais fracos que ele.” 

"Eu não tenho dúvidas que é parte do destino da raça humana, na sua evolução gradual, parar de comer animais."

“Quando um humano mata um animal para comer, está a negligenciar a sua própria fome por justiça. O homem reza por misericórdia, mas está relutante em estende-la aos outros. Porque que o homem há de esperar misericórdia de Deus? É injusto esperar uma coisa que não estás disposto a dar.”




Um comentário: